Antes de responder à pergunta feita no título, temos que entender o que é governança corporativa.
Embora existam definições mais complexas, para o objetivo deste texto basta dizer que:
A governança corporativa é um conjunto de práticas que tem por finalidade otimizar o desempenho de uma companhia, protegendo investidores, empregados e credores (…).[1]
O uso de práticas de governança corporativa tem dois objetivos principais. O primeiro, é tornar possível a tomada de decisões internas de forma ética e no melhor interesse da empresa, buscando o seu crescimento e longevidade. O segundo, é garantir transparência e o respeito aos direitos de todos os stakeholders (partes interessadas e impactadas pela empresa, como sócios, colaboradores, fornecedores e clientes).[2]
Para buscar cumprir esses objetivos, há muitas práticas que são recomendadas, desde as mais simples até questões complexas e mais estruturadas, que demandam tempo e investimento maiores.
Feita essa breve explicação, podemos voltar à pergunta do título: Minha startup precisa de governança corporativa?
Se você quer que a sua startup cresça de forma consistente e atraindo o interesse de investidores e clientes, com certeza você deve adotar práticas de governança.
Isso porque, ao adotá-las, você vai trazer para a sua startup vantagens como:
- Aumento de valor de mercado (estruturas mais organizadas geram confiança a clientes e investidores);
- Maior atração para captação de investimentos;
- Redução dos riscos de insucesso por falhas na estrutura organizacional;
- Maior controle financeiro; e
- Crescimento mais saudável.
Tão importante quanto ter a consciência de que a governança corporativa é valiosa para a sua startup, é saber em qual medida ela deve ser aplicada, para evitar que estruturas de governança mais sofisticadas do que o necessário acabem engessando a startup e trazendo prejuízos ao invés de benefícios.
Por isso, a governança corporativa deve ser adotada de acordo com a fase de maturação da startup, sendo incrementada conforme o desenvolvimento do negócio.
Alguns exemplos de boas práticas de governança que devem ser utilizadas por startups (e empresas em geral) são:
- Formalizar um acordo de sócios (ou acordo de fundadores, caso a startup ainda não esteja formalmente constituída; o objetivo é alinhar as expectativas dos sócios, definir as responsabilidades e eventual remuneração de cada um, as regras de distribuição de lucros, exercício de direitos de voto e preferência, entrada e saída de sócios, aportes de capital, entre outras questões relevantes);
- Assinar contratos com fornecedores e clientes (para definir as regras de cada relação e proteger os direitos da startup);
- Proteger as propriedades intelectuais (por exemplo, registrando marcas e patentes, assinando termos de confidencialidade com colaboradores e definindo regra de cessão de propriedades intelectuais pelos colaboradores à startup);
- Implantar controles internos para garantir informações precisas (rotinas contábeis, gerenciamento de caixa e demonstrações financeiras, entre outras);
- Definir regras de incentivo de colaboradores-chave.
Além desses exemplos, conforme a startup for atingindo fases de desenvolvimento maior, passam a ser recomendadas práticas de governança como a criação de conselho consultivo ou de administração, a instalação de conselho fiscal, a contratação de auditoria independente, a elaboração de códigos de ética e conduta, entre outras.
Não existe uma “receita de bolo” quando o assunto é governança corporativa. O importante é que os sócios saibam da relevância do tema e apliquem em suas startups de acordo com a sua realidade.
Por fim, vale reforçar que, embora em um primeiro momento a governança possa ser vista como custo, o retorno obtido com o uso de boas práticas de governança é altamente recompensador.
Caso tenha interesse em saber mais sobre o tema, recomendo a leitura do material “Governança Corporativa para Startups & Scale-ups”, do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), que está disponível neste link.
[1] DA SILVA, Edson Cordeiro. Governança corporativa nas empresas: guia prático de orientação para acionistas, investidores, conselheiros de administração, executivos, gestores, analistas de mercado e pesquisadores. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 18.
[2] Conforme: SILVEIRA, Alexandre Di Miceli da. Governança corporativa no Brasil e no mundo: teoria e prática. 2.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015, p. 6.